tag:blogger.com,1999:blog-85652248050177947092024-03-12T19:26:57.126-07:00A poemárioA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.comBlogger64125tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-32312190488522760832011-12-05T04:36:00.000-08:002011-12-05T04:39:12.841-08:00Entre-distânciaDe mim a ti eu ouço-te e convivo,<br />e dás-me o que és e eu perco e não conheço<br />enquanto mo não tires e não sejas<br />no dia-a-dia em que te perdes sendo.<br />A tua voz tão clara, as tuas mãos tão certas,<br />só de as lembrar são outras, como tu,<br />diferente que vais sendo, nem a mim me escutas,<br />e, de tocar-te, sabes que toquei.<br />Mesmo o que sabes, sabes que não sabes,<br />do não-saber que é ter sabido outrora.<br />A uma distância infinda estamos, pois, tão perto,<br />por que? - Como as palavras ditas,<br />sinais, que foram, do que então morria,<br />nem no ar ficaram que entre nós medeia,<br />gestos que fiz os fiz, e a carne penetrada,<br />como a que penetra, em seu fervor conhece,<br />o tenso contactar que de vibrar se esgota,<br />alheiamente atenta à própria forma ansiosa:<br />de nunca repetir nos repetimos,<br />de nunca possuir nos possuímos,<br />de nunca ouvir ao longe nos ouvimos,<br />e de não sermos mais que, frente-a-frente,<br />duas ausências que a não ser se assistem -<br />eu ouço-te, eu vejo-te, eu tenho-te,<br />convivo.<br /><br />Jorge de SenaA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-23121709339843079062011-06-16T03:31:00.000-07:002011-06-16T03:35:49.727-07:00The coming of wisdom with timeThough leaves are many, the root is one; <br />Through all the lying days of my youth <br />I swayed my leaves and flowers in the sun; <br />Now I may wither into the truth. <br /><br />W. B. YeatsA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-51535716185430774162011-05-17T03:58:00.001-07:002011-05-17T03:58:52.617-07:00JogoEu, sabendo que te amo <br />E como as coisas do amor são difíceis, <br />Preparo em silêncio a mesa <br />do jogo, estendo as peças <br />sobre o tabuleiro, disponho os lugares <br />necessários para que tudo <br />comece: as cadeiras <br />uma em frente da outra, embora saiba <br />que as mãos não se podem tocar, <br />e que para além das dificuldades, <br />hesitações, recuos <br />ou avanços possíveis, só os olhos <br />transportam, talvez, uma hipótese <br />de entendimento. É então que chegas, <br />e como se um vento do norte <br />entrasse por uma janela aberta, <br />o jogo inteiro voa pelos ares, <br />o frio enche-te os olhos de lágrimas, <br />e empurras-me para dentro, onde <br />o fogo consome o que resta <br />do nosso quebra-cabeças. <br /><br />Nuno JúdiceA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-26438285533774048552010-12-17T03:27:00.000-08:002010-12-17T03:37:42.535-08:00Tenho um decote pousado no vestido e não sei se voltas,<br />mas as palavras estão prontas sobre os lábios como<br />segredos imperfeitos ou gomos de água guardados para o verão.<br />E, se de noite as repito em surdina, no silêncio<br />do quarto, antes de adormecer, é como se de repente<br />as aves tivessem chegado já ao sul e tu voltasses<br />em buscas desses antigos recados levados pelo tempo:<br /><br />Vamos para casa? O sol adormece nos telhados ao domingo<br />e há um intenso cheiro a linho derramado nas camas.<br />Podemos virar os sonhos do avesso, dormir dentro da tarde<br />e deixar que o tempo se ocupe dos gestos mais pequenos.<br /><br />Vamos para casa. Deixei um livro partido ao meio no chão<br />do quarto, estão sozinhos na caixa os retratos antigos<br />do avô, havia as tuas mãos apertadas com força, aquela<br />música que costumávamos ouvir no inverno. E eu quero rever<br />as nuvens recortadas nas janelas vermelhas do crepúsculo;<br />e quero ir outra vez para casa. Como das outras vezes.<br /><br />Assim me faço ao sono, noite após noite, desfiando a lenta<br />meada dos dias para descontar a espera. E, quando as crias<br />afastarem finalmente as asas da quilha no seu primeiro voo,<br />por certo estarei ainda aqui, mas poderei dizer que, pelo<br />menos uma ou outra vez, já mandei os recados, já da minha<br />boca ouvi estas palavras, voltes ou não voltes.<br /><br />Maria do Rosário PedreiraA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-30279388181779390362010-10-08T10:09:00.000-07:002010-10-08T10:10:09.972-07:00Todo pasa y todo queda, <br />pero lo nuestro es pasar, <br />pasar haciendo caminos, <br />caminos sobre el mar. <br /><br />Nunca persequí la gloria, <br />ni dejar en la memoria <br />de los hombres mi canción; <br />yo amo los mundos sutiles, <br />ingrávidos y gentiles, <br />como pompas de jabón. <br /><br />Me gusta verlos pintarse <br />de sol y grana, volar <br />bajo el cielo azul, temblar <br />súbitamente y quebrarse... <br /><br />Nunca perseguí la gloria. <br /><br />Caminante, son tus huellas <br />el camino y nada más; <br />caminante, no hay camino, <br />se hace camino al andar. <br /><br />Al andar se hace camino <br />y al volver la vista atrás <br />se ve la senda que nunca <br />se ha de volver a pisar. <br /><br />Caminante no hay camino <br />sino estelas en la mar... <br /><br />Hace algún tiempo en ese lugar <br />donde hoy los bosques se visten de espinos <br />se oyó la voz de un poeta gritar <br />"Caminante no hay camino, <br />se hace camino al andar..." <br /><br />Golpe a golpe, verso a verso... <br /><br />Murió el poeta lejos del hogar. <br />Le cubre el polvo de un país vecino. <br />Al alejarse le vieron llorar. <br />"Caminante no hay camino, <br />se hace camino al andar..." <br /><br />Golpe a golpe, verso a verso... <br /><br />Cuando el jilguero no puede cantar. <br />Cuando el poeta es un peregrino, <br />cuando de nada nos sirve rezar. <br />"Caminante no hay camino, <br />se hace camino al andar..." <br /><br />Golpe a golpe, verso a verso. <br /><br />António MachadoA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-77579223150633302992010-09-15T07:23:00.000-07:002010-09-15T07:25:44.818-07:00Uma mulher quase novaUma mulher quase nova <br />com um vestido quase branco <br />numa tarde quase clara <br />com os olhos quase secos <br /><br />vem e quase estende os dedos <br />ao sonho quase possível <br />quase fresca se liberta <br />do desespero quase morto <br /><br />quase harmónica corrida <br />enche o espaço quase alegre <br />de cabelos quase soltos <br />transparente quase solta <br /><br />o riso quase bastante <br />quase músculo florido <br />deste instante quase novo <br />quase vivo quase agora <br /><br />Mário DionísioA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-5079993588579441672010-05-18T03:00:00.000-07:002010-05-18T03:01:25.474-07:00Glosa à chegada do OutonoO corpo não espera. Não. Por nós<br />ou pelo amor. Este posar de mãos,<br />tão reticente e que interroga a sós<br />a tépida secura acetinada,<br />a que palpita por adivinhada<br />em solitários movimentos vãos;<br />esse pousar em que não estamos nós,<br />mas uma sede, uma memória, tudo<br />o que sabemos de tocar desnudo<br />o corpo que não espera; este pousar<br />que não conhece, nada vê, nem nada<br />ousa temer no seu temor agudo...<br /><br />Tem tanta pressa o corpo! E já passou,<br />quando um de nós ou quando o amor chegou.<br /><br /><em>Jorge de Sena</em>A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-59625347301956472982010-05-10T02:57:00.000-07:002010-05-10T02:58:17.620-07:00Palabras para JúliaTú no puedes volver atrás<br />porque la vida ya te empuja<br />como un aullido interminable.<br /><br />Hija mía es mejor vivir<br />con la alegría de los hombres<br />que llorar ante el muro ciego.<br /><br />Te sentirás acorralada<br />te sentirás perdida o sola<br />tal vez querrás no haber nacido.<br /><br />Yo sé muy bien que te dirán<br />que la vida no tiene objeto<br />que es un asunto desgraciado.<br /><br />Entonces siempre acuérdate<br />de lo que un día yo escribí<br />pensando en ti como ahora pienso.<br /><br />La vida es bella, ya verás<br />como a pesar de los pesares<br />tendrás amigos, tendrás amor.<br /><br />Un hombre solo, una mujer<br />así tomados, de uno en uno<br />son como polvo, no son nada.<br /><br />Pero yo cuando te hablo a ti<br />cuando te escribo estas palabras<br />pienso también en otra gente.<br /><br />Tu destino está en los demás<br />tu futuro es tu propia vida<br />tu dignidad es la de todos.<br /><br />Otros esperan que resistas<br />que les ayude tu alegría<br />tu canción entre sus canciones.<br /><br />Entonces siempre acuérdate<br />de lo que un día yo escribí<br />pensando en ti como ahora pienso.<br /><br />Nunca te entregues ni te apartes<br />junto al camino, nunca digas<br />no puedo más y aquí me quedo.<br /><br />La vida es bella, tú verás<br />como a pesar de los pesares<br />tendrás amor, tendrás amigos.<br /><br />Por lo demás no hay elección<br />y este mundo tal como es<br />será todo tu patrimonio.<br /><br />Perdóname no sé decirte<br />nada más pero tú comprende<br />que yo aún estoy en el camino.<br /><br />Y siempre siempre acuérdate<br />de lo que un día yo escribí<br />pensando en ti como ahora pienso.<br /><br /><em>José Agustín Goytisole<br /></em>A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-67857824755471178052010-03-25T04:19:00.000-07:002010-03-25T04:22:20.629-07:00O tempo seca a beleza,<br />seca o amor, seca as palavras.<br />Deixa tudo solto, leve,<br />desunido para sempre<br />como as areias nas águas.<br /><br />O tempo seca a saudade,<br />seca as lembranças e as lágrimas.<br />Deixa algum retrato, apenas,<br />vagando seco e vazio<br />como estas conchas das praias.<br /><br />O tempo seca o desejo<br />e suas velhas batalhas.<br />Seca o frágil arabesco,<br />vestígio do musgo humano,<br />na densa turfa mortuária.<br /><br />Esperarei pelo tempo<br />com suas conquistas áridas.<br />Esperarei que te seque,<br />não na terra, Amor-Perfeito,<br />num tempo depois das almas.<br /><br />Cecília MeirelesA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-74180570009576617652010-03-12T14:27:00.001-08:002010-03-12T14:28:31.287-08:00O teu corpoUm corpo secreto<br />e espesso<br />por onde deslize o silêncio<br />A saliva da tarde<br /><br />que vire o desejo<br />do avesso<br /><br />Maria Teresa HortaA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-68357746382543675662010-02-27T15:03:00.001-08:002010-02-27T15:04:54.436-08:00For each ecstatic instant<br />We must an anguish pay<br />In keen and quivering ratio<br />To the ecstasy.<br /><br />For each beloved hour<br />Sharp pittances of years -<br />Bitter contested farthings -<br />And Coffers heaped with Tears!<br /><br />Emily Dickinson<br />1859A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-82932074527367528902010-01-27T05:08:00.000-08:002010-01-27T05:09:29.667-08:00AlegoriaFaço um castelo na areia do futuro. Torres<br />de névoa, ameias de fumo, pontes levadiças<br />de indecisão. Vejo a areia escoar-se<br />na ampulheta dos séculos; e um exército<br />de ondas rompe as linhas do infinito,<br />derrubando os muros da manhã.<br /><br />Nuno JúdiceA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-21466345631660320852010-01-17T08:27:00.000-08:002010-01-17T08:30:08.348-08:00Metal fundenteGostava de explicar-te e de poder<br />eu próprio compreender<br />por que momentos houve em que perder-te<br />era metal fundente como o que disse um poeta<br />entre nós e as palavras existir<br /><br />Eu seria as palavras tu os corpos<br />fundentes de nós dois, pela separação<br />futura liquefeitos<br />Era de cada vez como se a vida<br />também fundisse e o seu metal escorresse<br />sobre a pele da perda talvez isso<br />explicasse como o chumbo<br />da ilusão derrete e nos liberta<br />até desse momento em que tememos<br />nada mais ter<br /><br />Mas como poderia<br />eu amar-te e achar-te já de mais<br />sentir estando tu tão perto ainda<br />a onda<br />da ausência contornar-me<br /><br />O céu em certos dias produzia<br />o efeito de um espelho em que voltávamos<br />inversos<br />ao verão que tu julgaras<br />então igual à vida e era apenas<br />a infância perdida sobre o mar<br /><br />Gastão CruzA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-83868475243398512322009-12-15T03:02:00.000-08:002009-12-15T03:12:11.152-08:00Entre a sombra e a noite há um submisso instante<br />de preparação.<br />Aberto espaço onde as aves não cantam,<br />imaculado, instantâneo refúgio.<br />Entre a sombra e a noite, único passo!<br /><br />- E é serena e frágil a presença<br />dos nossos vultos passageiros<br />isolados na própria condição.<br /><br />Onde nada se move, uma estrela suspensa.<br /><br />E tão inutilmente despedaço o encanto,<br />e tão súbita me vem uma tristeza antiga,<br />que entre a sombra e a noite encontro o meu refúgio<br />- o intocável, único espaço.<br /><br />Maria Alberta Menéres<br />(Cântico de barro)A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-81391042478138628532009-11-11T05:14:00.000-08:002009-11-11T05:17:03.949-08:00Passou?<br />Minúsculas eternidades<br />deglutidas por mínimos relógios<br />ressoam na mente cavernosa.<br /><br />Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.<br />A tua mão – tua mão, nossas mãos –<br />rugosas, têm o antigo calor<br />de quando éramos vivos. Éramos?<br /><br />Hoje somos mais vivos do que nunca.<br />Mentira, estarmos sós.<br />Nada, que eu sinta, passa realmente.<br />É tudo ilusão ter passado.<br /><br />Carlos Drummond de AndradeA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-63750770910505052722009-11-05T16:11:00.000-08:002009-12-15T03:18:23.897-08:00Dá-me a tua mão.<br /><br />Deixa que a minha solidão<br />prolongue mais a tua<br />- para aqui os dois de mãos dadas<br />nas noites estreladas,<br />a ver os fantasmas a dançar na lua.<br /><br />Dá-me a tua mão, companheira,<br />Até ao Abismo da Ternura Derradeira.<br /><br />José Gomes Ferreira<br />(Mais outra canção para a Inventada)A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-76382166193839793802009-11-05T03:43:00.000-08:002009-11-05T03:44:13.622-08:00Cosa MentaleCom o maior orgão erógeno<br />(e a colaboração das restantes zonas)<br />fico aqui a imaginar-me<br />a despir-te,<br />botão a botão,<br />até seres só mãos<br />e braços<br />e corpo sobre a armadura,<br />gémea da minha,<br />praqui a perder-me<br />em exercícios esforçados de distância<br />emocional.A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-72536923434194701192009-10-17T15:06:00.000-07:002009-10-17T15:10:06.355-07:00E por vezesE por vezes as noites duram meses<br />E por vezes os meses oceanos<br />E por vezes os braços que apertamos<br />nunca mais são os mesmos E por vezes<br /><br />encontramos de nós em poucos meses<br />o que a noite nos fez em muitos anos<br />E por vezes fingimos que lembramos<br />E por vezes lembramos que por vezes<br /><br />ao tomarmos o gosto aos oceanos<br />só o sarro das noites não dos meses<br />lá no fundo dos copos encontramos<br /><br />E por vezes sorrimos ou choramos<br />E por vezes por vezes ah por vezes<br />num segundo se evolam tantos anos<br /><br />David Mourão-Ferreira<br />Matura IdadeA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-68027859305225952172009-09-14T14:59:00.001-07:002009-09-14T15:00:01.328-07:00Vive em cada minuto<br />a tua eternidade<br />- sem luto<br />nem saudade.<br /><br />Vive-a, pleno e forte,<br />num frenesim<br />de arremesso.<br /><br />Para que a tua morte<br />seja sempre um fim<br />e nunca um começo.<br /><br />José Gomes FerreiraA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-35853083999147035702009-09-02T02:52:00.000-07:002009-09-14T14:59:03.251-07:00JoelhoPonho um beijo<br />demorado<br />no topo do teu joelho<br /><br />Desço-te a perna<br />arrastando<br />a saliva pelo meio<br /><br />Onde a língua<br />segue o trilho<br />até onde vai o beijo<br /><br />Não há nada<br />que disfarçe<br />de ti aquilo que vejo<br /><br />Em torno um mar<br />tão revolto<br />no cume o cimo do tempo<br /><br />E os lençois desalinhados<br />como se fossem<br />de vento<br /><br />Volto então ao teu<br />joelho<br />entreabrindo-te as pernas<br /><br />Deixando a boca<br />faminta<br />seguir o desejo nelas<br /><br />Maria Teresa HortaA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-89881745959997271692009-06-23T07:12:00.000-07:002009-06-23T07:16:59.271-07:00VertentesAs palavras esperam o sono<br />e a música do sangue sobre as pedras corre<br />a primeira treva surge<br />o primeiro não a primeira quebra<br /><br />A terra em teus braços é grande<br />o teu centro desenvolve-se como um ouvido<br />a noite cresce uma estrela viva<br />uma respiração na sombra o calor das árvores<br /><br />Há um olhar que entra pelas paredes da terra<br />sem lâmpadas cresce esta luz de sombra<br />começo a entender o silêncio sem tempo<br />a torre extática que se alarga<br /><br />A plenitude animal é o interior de uma boca<br />um grande orvalho puro como um olhar<br /><br />Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio<br />sou o teu lábio e a coxa da tua coxa<br />sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo<br />sou a sombra que conhece a luz que a submerge<br /><br />A luz que sobe entre<br />as gargantas agrestes<br />deste cair na treva<br />abre as vertentes onde<br />a água cai sem tempo<br /><br />António Ramos RosaA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-39172626118782278572009-06-07T13:23:00.000-07:002009-06-07T13:26:40.944-07:00LisboaEsta névoa sobre a cidade, o rio,<br />as gaivotas doutros dias, barcos, gente<br />apressada ou com o tempo todo por perder,<br />esta névoa onde começa a luz de Lisboa,<br />rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,<br />nada mais quero de degrau em degrau.<br /><br />Eugénio de Andrade<br />(Escrita da terra)A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-61991499902715200842009-05-28T15:05:00.001-07:002009-06-07T13:27:09.224-07:00O anjo de pedraTinha os olhos abertos mas não via.<br />O corpo todo era a saudade<br />de alguém que o modelara e não sabia<br />que o tocara de maio e claridade.<br /><br />Parava o seu gesto onde pára tudo:<br />no limiar das coisas por saber<br />- e ficara surdo e cego e mudo<br />para que tudo fosse grave no seu ser.<br /><br />Eugénio de Andrade<br />(As mãos e os frutos)A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-63715761534228082932009-05-10T12:38:00.000-07:002009-05-10T12:42:18.101-07:00A exacta viagem (fragmento inicial)Falo de um tempo incolor,<br />onde a luz brilha como um aço esquecido.<br />Aqui um gesto limita carícias como vidro esmagado,<br />e, do que sabemos, só é nossa esta sagrada flor<br />que não desvendamos.<br />Prodigiosos os insectos,<br />cujo vocabulário é tão reduzido e ondulado<br />e sentem a morte<br />como os pássaros escuros e sem destino.<br />Sábios, brilhantes e frios,<br />os dedos que nos estendem<br />trazem eternidade de gargantas falsas<br />onde um reino é sempre dourado,<br />mas nunca, nunca chega a nossa voz<br />de juncos e ausência.<br /><br />Onde estás primavera de vinho e loucura<br />que não nos restituis as acácias<br />e os peixes das ervas pequenas e sadias?<br /><br />Onde se esconde teu coração adolescente,<br />teu riso de neve e seda<br />em perene sigilo?<br /><br />Onde colher os gestos da lua<br />se nos cortaram as mãos<br />e a catedral de nossa esperança<br />agoniza todas as noites,<br />entre estátuas e estátuas?<br /><br />Não, não nos falem de palavras<br />compondo bênçãos<br />e escorrendo rios de alegria e paz.<br />Não é verdade que temos ossos e músculos<br />e o sangue dói quando nos apertam a cabeça?<br /><br />Liberto Cruz<br />(Itinerário)<br /><em>A Urbano Tavares Rodrigues e David Mourão-Ferreira</em>A.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8565224805017794709.post-14442815884873491572009-04-29T05:04:00.000-07:002009-04-29T05:06:25.412-07:00Por que pairas?<br />Por que insistes?<br />Por que pairas se deixaste<br />que te prendessem terrenas<br />falsas tranquilidades?<br />Por que negaste o que eras -<br />nuvem íntegra, real,<br />sobre as mentiras do mundo?<br />Às vezes cantas em tudo.<br />Mas é tão triste e tão tarde.<br />Meu amor, por que vieste?<br />Nunca tivera sabido<br />como se nasce e se morre<br />de repente ao mesmo tempo<br />para sempre, ó arrastada<br />humana deusa frustrada<br />água irmã da minha sede<br />luz de toda a claridade<br />que só em ti neste mundo<br />para mim era verdade.<br /><br /><br />Alberto de LacerdaA.http://www.blogger.com/profile/12611786845353628006noreply@blogger.com0