As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra
A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela viva
uma respiração na sombra o calor das árvores
Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga
A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar
Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge
A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo
António Ramos Rosa
domingo, 7 de junho de 2009
Lisboa
Esta névoa sobre a cidade, o rio,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo por perder,
esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau.
Eugénio de Andrade
(Escrita da terra)
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo por perder,
esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau.
Eugénio de Andrade
(Escrita da terra)
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