segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Como dizia o poeta

Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou,
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração,
Esse não vai ter perdão

Vinicius de Moraes

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

EXAUSTA

Exausta à beira do remorso à beira
do rio do remorso do silêncio
do roxo da montanha do remorso
da folha de combate mesmo à sombra
da planta do remorso venevível
da água enfeitiçada onde mais dura
e escura há uma areia de remorso
Magoadamente às vezes não sei quando
talvez porque de leve as vozes voltam
ao quarto do remorso e sem remorso
escutam a cor tranquila do quadrado
removido de noite para a chuva
e aberto nos meus olhos sem remorso
Magoadamente às vezes não sei quando
remo remo no dorso do remorso
A distância é um grito do avesso
decomponho o minuto em trinta passos
e de novo de súbito o primeiro
segundo movimento despenhando
o sangue do remorso já na curva
veia obscura obcecada do remorso
e a certeza inútil: hino útil
de agora ter o alimento humano
o braço o breve a sede o leite nervo
do remorso excessivo de mais nada
de ser até demais dizer de nada
- o nada certo e lento no entanto
dor ou solstício e no entanto a dor
do sol do estio do vestígio
magoadamente às vezes não sei quando

Maria Alberta Menéres
(O robot sensível)